terça-feira, 19 de março de 2013
Rabugenta Solidão
De novo me encontro num estado já muito ausente, mas bem conhecido por mim. Afinal, 18 anos vivendo esta mesma situação em momentos aleatórios a torna quase uma velha amiga. Escrevo porque tenho necessidade de me expressar e mostrar ao mundo um lado meu que a timidez me impede de realizar diretamente. Escrevo também, porque penso demais e numa determinada hora, preciso colocar estes pensamentos para fora, para então me organizar. Escrevo porque o papel e a caneta são meus melhores amigos, já que a solidão e a ausência real aumentam tanto minha carência.
Solidão e carência. Chegamos ao ponto-chave deste texto. Meu coração anda tão apertado e sufocado, sinto necessidade de resolver uma parte da minha vida que permanece intocada: a afetiva. Na verdade, nem sei se ela existe. Por Deus, tenho meus amigos, quem eu tanto estimo! Tenho também meu pai, meu amigo e companheiro! Mas meus amigos um dia terão suas próprias vidas ( e aliás, muitos já estão tendo). Eles terão suas famílias, seus filhos, seus empregos e essa amizade sempre companheira será deixada de lado. Meu querido e amado pai um dia ficará velho e irá partir para um mundo melhor, onde eu me sentirei ainda mais solitária, enquanto espero pelo nosso reencontro.
Desde muito nova, fui deixada sozinha por aqueles a quem eu amava. Sempre temi a solidão e é por isso que costumo ser tão sozinha. Apesar disso, acredito que não seja parte da minha cruz viver sempre solitária. "Onde está meu amor, quem será com quem se parece...?" Será que esse amor realmente existe? Será que não estou destinada a viver sozinha pelo restante da minha vida? E meus sonhos de construir uma família, de ter um marido e dois filhos? Quem vou educar, ensina a gostar de livros, levar à escola? Com quem irei ao clube nos fins de semana de sol? Quem irei fotografar para fazer um painel de recordações ma parede da sala?
Sou um fracasso com relação à minha vida afetiva (a garotos, por assim dizer). Não sei do dia de amanhã não sei quais são os planos de Deus para mim. Só sei que sinto medo das minhas limitações jamais me deixarem ir adiante e como consequência, minha vida ser destinada à solidão. E eu bem sei que é provável, já que há em mim uma barreira presente desde o dia em que nasci. Se tentei mudar? É claro que sim. Tudo o que faço na vida são tentativas sem sucesso de ser alguém natural, extrovertida e sem medo de arriscar. Afinal, me sinto velha demais para aventuras. Quando era tempo de arriscar, eu estava ocupada demais vivendo minha infância que durou muito tempo. E agora que a infância se foi, me sinto velha e indisposta demais para viver minha juventude.
Em busca de uma reflexão interior, sei que devo dar tempo ao tempo sem me deixar abalar pelos meus temores. Infelizmente, se eu não tivesse medos, não teria coragem. E é por isso que entregarei nas mãos de Deus.
terça-feira, 12 de março de 2013
William Shakespeare: O Menestrel
Você aprende, Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não dá a você o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida. Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.
terça-feira, 5 de março de 2013
A Fada e o Lobo - Parte III (Final)
O sol estava quase se pondo no horizonte, quando terminei de
cumprir minhas tarefas. Seus raios mesclavam-se com o céu, gerando uma luz
lilás que envolvia as nuvens e eram refletidas no Grande Lago de águas
cristalinas. Voei acompanhando os raios lilás, com as borboletas dançando ao
meu redor. Uma delas pousou em meu dedo, fazendo cócegas em minha pele.
- Que belo dia foi este, flor dançante - falei, num sorriso
- Tenho certeza que a noite chegará linda e cheia de estrelas.
A borboleta abriu e fechou as asas, voando em seguida,
acompanhando suas irmãs no último voo do pôr do sol. Continuei voando, até me
aproximar da floresta. Esta noite eu tinha uma missão, escolhida por mim.
Voltei ao solo, recolhendo minhas asas. Ouvi um pio, minha
fiel companheira estava há poucos metros de mim, em cima de um galho. Observei
os olhos daquela coruja, que me diziam "vá em frente!"
- Tens razão, querida amiga. Hoje eu vou descobrir o
mistério daquele lobo.
Outro pio. É, irei em frente, sem medo.
Adentrei a floresta de árvores enormes e fortes, que
aproveitavam os últimos raios solares do dia. Havia pequenos coelhos, lebres e
cordeiros indo para suas tocas e esconderijos. Acariciei uma rosa vermelha que
se fechava para o frio da noite. Sorri, com ternura. Como a natureza é perfeita
e bela!
Foi mais ou menos neste mesmo lugar que encontrei o lobo das
outras vezes. Com cuidado, voei até o topo de uma árvore, onde me escondi para
esperar o belo animal aparecer. Observei atentamente, entre o emaranhado de
folhas e galhos, até que encontrei aquele misterioso brilho, que já me parecia
familiar. O lobo caminhava calma e majestosamente, exibindo todo seu esplendor.
O vento soprou uma brisa leve, bagunçando seu pelo prateado e eu pude jurar que
vi centelhas de luz prateada, bagunçadas pela brisa, voarem e grudarem nas
árvores, desaparecendo segundos depois.
Fiquei hipnotizada, novamente, com tanta magia que aquele
animal realizava, quase inconscientemente. Eu possuía alguma magia, mas era
vital, curadora... Era assim que eu realizava o auxílio aos animais feridos e
revigorava a força das árvores. Mas aquele lobo... Eu sentia minhas asas
vibrarem na presença de tamanho poder e tamanha energia, tão puros e simples.
Não era um animal comum, repito. E eu estava prestes a descobrir o que era de
verdade.
O lobo uivou, depois, caminhou com passos calmos até a parte
da floresta onde as árvores eram mais densas e mais unidas. Eu o segui. Ao
longo do percurso, encontramos uma lebre caída no chão, à beira da morte. Imediatamente,
eu quis ajudar o pobre animalzinho que sofria convulsões no meio das raízes de
um grande salgueiro, mas contive, resolvendo aguardar o lobo se afastar. De
repente, o Lobo se aproximou da lebre e inacreditavelmente, fungou-lhe a face.
O pequeno animal suspirou e as convulsões pararam. Acreditei que estava morto,
que aquele estranho lobo havia terminado de matar um pobre animal para saciar
sua fome, sua ganância. Me revoltei, acabando com toda a admiração que tinha
por aquele animal. Então, antes que eu fizesse qualquer coisa, a pobre lebre
levantou a pequena cabeça, esforçando-se para erguer o restante do pequeno
corpo. Percebi então, que o lobo não a matara, mas a tinha curado, como eu tive
a intenção de fazer. Céus, perdoem meu julgamento e minha intolerância!
Assim como a admiração havia me fugido, depois daquele
magnífico feito, ela voltara ainda mais forte.
Repentinamente, o lobo virou a cabeça na minha direção, como
se soubesse que eu estava ali o tempo todo. Não sei como aconteceu, mas senti seus
olhos enxergando dentro de mim, absorvendo tudo sobre a minha presença. Sem
muita consciência do que estava fazendo, desci da árvore, enquanto o lobo ainda
me observava atentamente. Não me aproximei, manti uma distância segura entre
nós. Apesar de toda a admiração, aquele animal me intimidava.
O lobo, então, deu um passo na minha direção, mas me mantive
quieta, prestando atenção. Ele fechou os olhos, como quem se preparava para se concentrar
em algo muito importante. Centelhas prateadas, semelhantes àquelas que grudaram
nas árvores, saíram novamente de seu pelo, mas dessa vez formaram imagens
nítidas e que me pareceram estranhamente familiares. Fatos da minha vida como
humana passaram por aquelas imagens... O brilho do meu olhar, meu riso alegre,
os amigos que deixei para trás, minhas lágrimas de decepção, minha maldade
incontrolada e meu pedido de perdão aos Céus. Cenas de minha vida como fada
também passaram pelas imagens: meus voos saltitantes, meu riso melódico ao
conversar com os pequenos amigos, minhas curas dos animais, minha manipulação
de energia vital... Vi também vários crepúsculos onde eu me escondia e
observava este mesmo lobo, que me mostrava que há muito tempo também me
observava.
O incrível animal abriu os olhos, me libertando do transe. Com
lágrimas nos olhos, e sem pensar, corri até ele o abracei, quase afundando o
rosto em seus pelos prateados.
Como se ainda fosse possível algo mais mágico acontecer,
ouvi uma voz grave e bonita na minha cabeça:
- Eu sabia que viria atrás de mim, pequena fada. Eu conheço
a tua história, sei do teu valor.
Me afastei alguns centímetros do animal e o fitei,
imensamente impressionada:
- Como fazes isso? - murmurei, tocando o focinho dele com
uma das mãos. Ele fechou os olhos - Quem és tu?
O lobo deu um passo para trás e uma névoa se formou ao seu
redor. Num piscar de olhos, toda a névoa desapareceu, junto com o animal, dando
lugar a um homem alto, de cabelos castanhos na altura do pescoço, com
brilhantes olhos azuis.
- Meu nome é Aron - disse o homem - Sou o príncipe dos
Elfos. Tenho uma missão para contigo, assim como tu tens uma missão para
comigo. Há um fio invisível que nos une e nós temos de terminar o que foi
começado há milênios atrás. Há uma missão para cumprirmos juntos.
Eu mal havia entendido o que aquele elfo de nome Aron havia
dito, mas eu estava feliz por finalmente ter descoberto que aquele lobo era
mais que um animal e que havia essa estranha ligação entre nós. Se eu estava
sonhando, eu não sabia, mas me sentia fascinada com tudo que havia acontecido,
com tudo que meus olhos haviam visto. Que missão seria essa? Eu não fazia ideia,
mas iria cumprir, se fosse a vontade dos Céus.
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