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terça-feira, 5 de março de 2013

A Fada e o Lobo - Parte III (Final)





O sol estava quase se pondo no horizonte, quando terminei de cumprir minhas tarefas. Seus raios mesclavam-se com o céu, gerando uma luz lilás que envolvia as nuvens e eram refletidas no Grande Lago de águas cristalinas. Voei acompanhando os raios lilás, com as borboletas dançando ao meu redor. Uma delas pousou em meu dedo, fazendo cócegas em minha pele.
- Que belo dia foi este, flor dançante - falei, num sorriso - Tenho certeza que a noite chegará linda e cheia de estrelas.
A borboleta abriu e fechou as asas, voando em seguida, acompanhando suas irmãs no último voo do pôr do sol. Continuei voando, até me aproximar da floresta. Esta noite eu tinha uma missão, escolhida por mim.
Voltei ao solo, recolhendo minhas asas. Ouvi um pio, minha fiel companheira estava há poucos metros de mim, em cima de um galho. Observei os olhos daquela coruja, que me diziam "vá em frente!"
- Tens razão, querida amiga. Hoje eu vou descobrir o mistério daquele lobo.
Outro pio. É, irei em frente, sem medo.
Adentrei a floresta de árvores enormes e fortes, que aproveitavam os últimos raios solares do dia. Havia pequenos coelhos, lebres e cordeiros indo para suas tocas e esconderijos. Acariciei uma rosa vermelha que se fechava para o frio da noite. Sorri, com ternura. Como a natureza é perfeita e bela!
Foi mais ou menos neste mesmo lugar que encontrei o lobo das outras vezes. Com cuidado, voei até o topo de uma árvore, onde me escondi para esperar o belo animal aparecer. Observei atentamente, entre o emaranhado de folhas e galhos, até que encontrei aquele misterioso brilho, que já me parecia familiar. O lobo caminhava calma e majestosamente, exibindo todo seu esplendor. O vento soprou uma brisa leve, bagunçando seu pelo prateado e eu pude jurar que vi centelhas de luz prateada, bagunçadas pela brisa, voarem e grudarem nas árvores, desaparecendo segundos depois.
Fiquei hipnotizada, novamente, com tanta magia que aquele animal realizava, quase inconscientemente. Eu possuía alguma magia, mas era vital, curadora... Era assim que eu realizava o auxílio aos animais feridos e revigorava a força das árvores. Mas aquele lobo... Eu sentia minhas asas vibrarem na presença de tamanho poder e tamanha energia, tão puros e simples. Não era um animal comum, repito. E eu estava prestes a descobrir o que era de verdade.
O lobo uivou, depois, caminhou com passos calmos até a parte da floresta onde as árvores eram mais densas e mais unidas. Eu o segui. Ao longo do percurso, encontramos uma lebre caída no chão, à beira da morte. Imediatamente, eu quis ajudar o pobre animalzinho que sofria convulsões no meio das raízes de um grande salgueiro, mas contive, resolvendo aguardar o lobo se afastar. De repente, o Lobo se aproximou da lebre e inacreditavelmente, fungou-lhe a face. O pequeno animal suspirou e as convulsões pararam. Acreditei que estava morto, que aquele estranho lobo havia terminado de matar um pobre animal para saciar sua fome, sua ganância. Me revoltei, acabando com toda a admiração que tinha por aquele animal. Então, antes que eu fizesse qualquer coisa, a pobre lebre levantou a pequena cabeça, esforçando-se para erguer o restante do pequeno corpo. Percebi então, que o lobo não a matara, mas a tinha curado, como eu tive a intenção de fazer. Céus, perdoem meu julgamento e minha intolerância!
Assim como a admiração havia me fugido, depois daquele magnífico feito, ela voltara ainda mais forte.
Repentinamente, o lobo virou a cabeça na minha direção, como se soubesse que eu estava ali o tempo todo. Não sei como aconteceu, mas senti seus olhos enxergando dentro de mim, absorvendo tudo sobre a minha presença. Sem muita consciência do que estava fazendo, desci da árvore, enquanto o lobo ainda me observava atentamente. Não me aproximei, manti uma distância segura entre nós. Apesar de toda a admiração, aquele animal me intimidava.
O lobo, então, deu um passo na minha direção, mas me mantive quieta, prestando atenção. Ele fechou os olhos, como quem se preparava para se concentrar em algo muito importante. Centelhas prateadas, semelhantes àquelas que grudaram nas árvores, saíram novamente de seu pelo, mas dessa vez formaram imagens nítidas e que me pareceram estranhamente familiares. Fatos da minha vida como humana passaram por aquelas imagens... O brilho do meu olhar, meu riso alegre, os amigos que deixei para trás, minhas lágrimas de decepção, minha maldade incontrolada e meu pedido de perdão aos Céus. Cenas de minha vida como fada também passaram pelas imagens: meus voos saltitantes, meu riso melódico ao conversar com os pequenos amigos, minhas curas dos animais, minha manipulação de energia vital... Vi também vários crepúsculos onde eu me escondia e observava este mesmo lobo, que me mostrava que há muito tempo também me observava.
O incrível animal abriu os olhos, me libertando do transe. Com lágrimas nos olhos, e sem pensar, corri até ele o abracei, quase afundando o rosto em seus pelos prateados.
Como se ainda fosse possível algo mais mágico acontecer, ouvi uma voz grave e bonita na minha cabeça:
- Eu sabia que viria atrás de mim, pequena fada. Eu conheço a tua história, sei do teu valor.
Me afastei alguns centímetros do animal e o fitei, imensamente impressionada:
- Como fazes isso? - murmurei, tocando o focinho dele com uma das mãos. Ele fechou os olhos - Quem és tu?
O lobo deu um passo para trás e uma névoa se formou ao seu redor. Num piscar de olhos, toda a névoa desapareceu, junto com o animal, dando lugar a um homem alto, de cabelos castanhos na altura do pescoço, com brilhantes olhos azuis.
- Meu nome é Aron - disse o homem - Sou o príncipe dos Elfos. Tenho uma missão para contigo, assim como tu tens uma missão para comigo. Há um fio invisível que nos une e nós temos de terminar o que foi começado há milênios atrás. Há uma missão para cumprirmos juntos.
Eu mal havia entendido o que aquele elfo de nome Aron havia dito, mas eu estava feliz por finalmente ter descoberto que aquele lobo era mais que um animal e que havia essa estranha ligação entre nós. Se eu estava sonhando, eu não sabia, mas me sentia fascinada com tudo que havia acontecido, com tudo que meus olhos haviam visto. Que missão seria essa? Eu não fazia ideia, mas iria cumprir, se fosse a vontade dos Céus.

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