Senti os raios de sol da manhã iluminarem meu rosto e a
brisa leve acariciar meus cabelos. Com um meio sorriso, me espreguicei, sem
abrir os olhos. Lembrei-me daquele precioso dia, no qual ganhara minhas asas e
toda a escuridão saiu de dentro de mim. Eu havia passado de uma simples humana
admiradora da natureza (com muitos pecados na bagagem), para uma fada bela e
sonhadora, de asas transparentes e longos cabelos negros enfeitados com tranças
e flores. Minha missão era fazer dos meus sonhos meus principais guias na
jornada de luz. Minha missão era fazer as pessoas sorrirem, mas principalmente,
sorrir também.
Levantei-me e fui cuidar dos meus afazeres, que eram,
principalmente, cuidar das plantas e dos animais. Eu adorava os animais e a
simplicidade que eles tinham ao viver. Procurava me espelhar neles com as
minhas ações. Os animais eram meus grandes e principais amigos.
Passei pelos verdes campos, enfeitados com flores de todos
os tipos. Ao lado, ficava um enorme lago de água cristalina, com peixes
coloridos que brincavam por entre as algas. Vi o meu reflexo naquela água tão
linda e me surpreendi ao ver o quão bela eu era. Apesar de tanto tempo sendo
uma fada, eu ainda não havia me acostumado com minha beleza, com o brilho da
minha pele e o ondulado dos meus cabelos negros. Quando eu era humana, minha
pele era seca e sem brilho, meus cabelos eram encaracolados e curtos, castanhos
assim como os meus olhos. Meus olhos agora estavam diferentes, o castanho
estava mais claro, mais cor de mel... Estavam maiores, mais expressivos e
serenos. Eu mesma era serena, eu emanava paz por onde passava, vendo que os
animais todos corriam para me ver. Só havia uma coisa que faltava nos meus
olhos: o brilho que antes esteve presente quando eu era humana.
Certo dia, apaixonei-me por um humano também, um jovem rapaz
de cabelos negros e olhos esverdeados. Nós vivemos um belo romance, até que sua
paixão por mim um dia chegou ao fim. Todo aquele brilho que havia no meu olhar
desapareceu, como se eu tivesse o matado com as próprias mãos. Desde então,
jamais vi vestígio algum desse brilho no meu olhar. Tornei-me fria e má. Fui
tão cruel com as pessoas, que fui apagando a bondade que havia dentro de mim...
Até que um dia acordei, e vi um reflexo de tudo que havia feito de ruim. Me
redimi e pedi perdão aos Céus, recebendo a oportunidade de mudar meus atos e
ser uma pessoa melhor, mais do que jamais fui. Foi assim que virei fada, porque
fiz tanto bem e espalhei tanto amor para com meus semelhantes, que me
propuseram essa maravilhosa missão.
O sol estava quase se pondo no horizonte, na minha volta
para casa. Quando passei perto da floresta, vi algo deslumbrante se
movimentando calma e sorrateiramente entre as árvores. Aproximei-me um pouco.
Era um lobo, nobre e majestoso, cercado de mistério. Provavelmente estava à
procura de um alce, ou um pássaro de grande porte, para que pudesse se
alimentar. Me escondi atrás de um grande carvalho que havia perto de mim e
observei todos os movimentos daquele animal. Não sei por que eu me escondi, mas
eu estava hipnotizada. Estava deslumbrada com toda a beleza daquele lobo, não
era um animal comum... Eu já havia cuidado de vários lobos que chegavam até
mim, machucadas por conta de suas aventuras e eu tinha certeza que esse era
especial. O pelo dele era tão deslumbrante e brilhoso... Tinha certeza que era
isso que me causara tanto fascínio.
Continuei meus devaneios por minutos incontáveis, até que o
lobo olhou na minha direção e me viu escondida atrás do carvalho. Parecendo
curioso por alguns instantes, piscou e correu, indo se esconder dentro da
floresta. Pisquei também, libertando-me da admiração temporária. Sentei-me e
senti algo parecido com lágrimas escorrendo pelos meus olhos. Com a ponta dos
dedos, toquei o líquido... Corri para ver meu reflexo no lago. Eram lágrimas!
Veja só, o encanto de um lobo me fez chorar de emoção, algo que eu nem me lembrava
da última vez que fizera! Pisquei novamente, rindo feliz com a situação! Uma
coruja pousou em um galho do carvalho e piou, como se compartilhasse minha
felicidade.
- Olá, amiguinha! - eu disse, num tom feliz. - Veja só que
belo pôr do sol!
E realmente era de tirar o fôlego. A coruja piou, como se
concordasse e voou, passando a centímetros de mim e bagunçando meu reflexo no
grande lago. Quando a água voltou a se estabilizar, olhei novamente para meu
reflexo e percebi algo que fez minha felicidade aumentar ainda mais: o brilho
dos meus olhos.
Ah, lobo majestoso... Veja só o que você me causou... Devo
lhe agradecer um dia, quando eu tiver coragem de sair detrás de uma árvore. Mostre-me
um caminho para que eu desvende esse mistério, essa sua majestade incomum. Deixe-me
saber o que você é de verdade!
Gostaria de receber uma missão tão linda e singela quanto. Tá lindo o conto! Finalmente postou mocinha <3 amei
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