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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Fada e o Lobo - Parte I




Senti os raios de sol da manhã iluminarem meu rosto e a brisa leve acariciar meus cabelos. Com um meio sorriso, me espreguicei, sem abrir os olhos. Lembrei-me daquele precioso dia, no qual ganhara minhas asas e toda a escuridão saiu de dentro de mim. Eu havia passado de uma simples humana admiradora da natureza (com muitos pecados na bagagem), para uma fada bela e sonhadora, de asas transparentes e longos cabelos negros enfeitados com tranças e flores. Minha missão era fazer dos meus sonhos meus principais guias na jornada de luz. Minha missão era fazer as pessoas sorrirem, mas principalmente, sorrir também.
Levantei-me e fui cuidar dos meus afazeres, que eram, principalmente, cuidar das plantas e dos animais. Eu adorava os animais e a simplicidade que eles tinham ao viver. Procurava me espelhar neles com as minhas ações. Os animais eram meus grandes e principais amigos.
Passei pelos verdes campos, enfeitados com flores de todos os tipos. Ao lado, ficava um enorme lago de água cristalina, com peixes coloridos que brincavam por entre as algas. Vi o meu reflexo naquela água tão linda e me surpreendi ao ver o quão bela eu era. Apesar de tanto tempo sendo uma fada, eu ainda não havia me acostumado com minha beleza, com o brilho da minha pele e o ondulado dos meus cabelos negros. Quando eu era humana, minha pele era seca e sem brilho, meus cabelos eram encaracolados e curtos, castanhos assim como os meus olhos. Meus olhos agora estavam diferentes, o castanho estava mais claro, mais cor de mel... Estavam maiores, mais expressivos e serenos. Eu mesma era serena, eu emanava paz por onde passava, vendo que os animais todos corriam para me ver. Só havia uma coisa que faltava nos meus olhos: o brilho que antes esteve presente quando eu era humana.
Certo dia, apaixonei-me por um humano também, um jovem rapaz de cabelos negros e olhos esverdeados. Nós vivemos um belo romance, até que sua paixão por mim um dia chegou ao fim. Todo aquele brilho que havia no meu olhar desapareceu, como se eu tivesse o matado com as próprias mãos. Desde então, jamais vi vestígio algum desse brilho no meu olhar. Tornei-me fria e má. Fui tão cruel com as pessoas, que fui apagando a bondade que havia dentro de mim... Até que um dia acordei, e vi um reflexo de tudo que havia feito de ruim. Me redimi e pedi perdão aos Céus, recebendo a oportunidade de mudar meus atos e ser uma pessoa melhor, mais do que jamais fui. Foi assim que virei fada, porque fiz tanto bem e espalhei tanto amor para com meus semelhantes, que me propuseram essa maravilhosa missão.
O sol estava quase se pondo no horizonte, na minha volta para casa. Quando passei perto da floresta, vi algo deslumbrante se movimentando calma e sorrateiramente entre as árvores. Aproximei-me um pouco. Era um lobo, nobre e majestoso, cercado de mistério. Provavelmente estava à procura de um alce, ou um pássaro de grande porte, para que pudesse se alimentar. Me escondi atrás de um grande carvalho que havia perto de mim e observei todos os movimentos daquele animal. Não sei por que eu me escondi, mas eu estava hipnotizada. Estava deslumbrada com toda a beleza daquele lobo, não era um animal comum... Eu já havia cuidado de vários lobos que chegavam até mim, machucadas por conta de suas aventuras e eu tinha certeza que esse era especial. O pelo dele era tão deslumbrante e brilhoso... Tinha certeza que era isso que me causara tanto fascínio.
Continuei meus devaneios por minutos incontáveis, até que o lobo olhou na minha direção e me viu escondida atrás do carvalho. Parecendo curioso por alguns instantes, piscou e correu, indo se esconder dentro da floresta. Pisquei também, libertando-me da admiração temporária. Sentei-me e senti algo parecido com lágrimas escorrendo pelos meus olhos. Com a ponta dos dedos, toquei o líquido... Corri para ver meu reflexo no lago. Eram lágrimas! Veja só, o encanto de um lobo me fez chorar de emoção, algo que eu nem me lembrava da última vez que fizera! Pisquei novamente, rindo feliz com a situação! Uma coruja pousou em um galho do carvalho e piou, como se compartilhasse minha felicidade.
- Olá, amiguinha! - eu disse, num tom feliz. - Veja só que belo pôr do sol!
E realmente era de tirar o fôlego. A coruja piou, como se concordasse e voou, passando a centímetros de mim e bagunçando meu reflexo no grande lago. Quando a água voltou a se estabilizar, olhei novamente para meu reflexo e percebi algo que fez minha felicidade aumentar ainda mais: o brilho dos meus olhos.
Ah, lobo majestoso... Veja só o que você me causou... Devo lhe agradecer um dia, quando eu tiver coragem de sair detrás de uma árvore. Mostre-me um caminho para que eu desvende esse mistério, essa sua majestade incomum. Deixe-me saber o que você é de verdade!

1 comentários:

  1. Gostaria de receber uma missão tão linda e singela quanto. Tá lindo o conto! Finalmente postou mocinha <3 amei

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