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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A Fada e o Lobo - Parte II




Aqui estou novamente caminhando pelo campo esverdeado. Ouço música suavemente tocando em algum lugar distante, o cantarolar calmo dos meus lábios acompanha a melodia já conhecida por mim. O sol se punha na linha do horizonte, como daquela vez em que encontrei aquele lobo fascinante. Meu reflexo na água cristalina era singelo, o brilho suave dos meus olhos ainda estava presente ali. Sorri ao meu recordar da felicidade que me envolveu quando vi meus olhos iluminados naquele entardecer. O brilho que tanto ausente se fez, já que lhe dei veneno para que dormisse por muito tempo. O inferno já não vive em mim. Como prêmio da minha luta, desfruto das minhas asas. Fecho os olhos e rodopio, as lembranças vão embora! É como se esse brilho se juntasse à minha pureza e formassem um laço inabalável, que me desse força. É a luz que espanta a escuridão.
Continuo meu caminho, observando os tipos de beleza ao meu redor, sempre auxiliando meus pequenos amigos e sorrindo para às árvores. Tanta calma me invade. É como se a paz da natureza me envolvesse e me dissesse: "Vá em frente, fada! Hora de ser feliz!". E realmente, minha hora chegara. Depois de tanto espalhar amor com minha pureza, me deram a dádiva de ser finalmente ser feliz por alguns instantes.
- Veja como ela está feliz - ouvi os ventos sussurrarem, enquanto eu continuava minha caminhada. Sorri, como se isso fosse um elogio.
Estou sozinha, mas fui eu quem escolheu assim. Borboletas, pássaros e joaninhas deixei para trás, mas voltarei logo. Às vezes a solidão se faz necessária, tenho necessidade de pensamentos e compreensão. Estou na fase em que sinto um imenso carinho por todos, mas as asas dos animais são fracas para compreender que eu preciso ir além e encontrar o lobo majestoso que se esconde no emaranhado de folhas e galhos da floresta. Não é um lobo qualquer, há algo diferente brilhando nos pelos acinzentados desse animal e esse brilho me faz querer desvendar o mistério, e me manter cada vez mais perto.
Uma última olhada no reflexo dos meus olhos no lago, eles são a confirmação de que estou no caminho certo. Um passo em direção à floresta, a coruja pousa em meu ombro e pia. Observo a sabedoria de seus olhos e mais vontade tenho de continuar minha caminhada. Sorrio para agradecer e a coruja voa lentamente ao meu lado, acompanhando meus passos lerdos até a entrada da floresta. Mais um pio, para me dizer que ela estaria por perto.
Estranhamente, eu gostava mais de caminhar do que de voar... Nunca gostei de chamar muita atenção, e eu buscava sempre estar ao redor de uma árvore, quando não estava às margens do lago.
Enfim, cheguei perto da floresta, com seu cheiro de natureza. Os pequenos animais estavam indo para suas tocas, enquanto a noite caia e as estrelas se ascendiam no céu acima de mim. Caminhei, procurando algum sinal que me alertasse sobre a estrada a se seguir. Resolvi esperar, ao invés de adentrar naquela escuridão debaixo das muitas árvores. Alguns minutos bastaram para me fazer respirar o cheiro familiar e correr para me esconder atrás de uma árvore. O lobo, distraído e majestoso caminhava entre as árvores, com a atmosfera tão leve que me fazia acreditar que não era um animal, mas sim algo celestial. Senti vontade de me aproximar, mas não conseguia me mexer, tamanha era minha admiração. Fechei os olhos alguns instantes, na esperança de não me perder na magia. Mas era tarde, abri os olhos e o lobo havia desaparecido, seguido seu caminho, me deixando desorientada com tamanho brilho. Ouvi um pio de coruja, minha companheira me observava de um galho não muito distante. Sim, amanhã eu poderia voltar e novamente observar o lobo, que de tão distraído, nunca percebera que depois daquela primeira noite, observá-lo era minha rotina de todos os dias. Isso é curioso, o lobo só percebera uma única vez que eu o observava, foi da primeira vez que o vi. Eu esperava que amanhã eu pudesse finalmente desvendar esse mistério por trás daquele pêlo.
Usei minhas asas para voltar mais rápido para casa e aproveitar para dizer boa noite às estrelas. Olhei para baixo numa última esperança de ver o lobo encantador e me surpreendi ao perceber que num monte de pelos prateados, olhos muito azuis olhavam na direção em que minhas asas batiam sem pressa. Ah, lobo majestoso... Sempre tão esperto e discreto, dessa vez esqueceu de se esconder atrás de uma árvore, assim como eu, que nunca tenho coragem de sair detrás de uma e hoje voo, a céu aberto.

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